domingo, 19 de dezembro de 2010

Gran Torino




Gênero: Drama
Duração: 116 minutos
Lançamento: 2008
Produção: Austrália/EUA
Site oficial: www.grantorino.com.br
Classificação etária: 14 anos

Ficha Técnica
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk, baseado em história de Dave Johanson e Nick Schenk
Produção: Bill Gerber, Clint Eastwood e Robert Lorenz
Fotografia: Tom Stern
Montagem: Joel Cox e Gary Roach
Direção de arte: John Wamke
Música: Kyle Eastwood e Michael Stevens
Figurino: Deborah Hopper
Efeitos Especiais: Pacific Title & Art Studio
Estúdios: Warner Bros./ Village Roadshow Productions/ Gerber Pictures/ Media Magik Entertainment/ Matten Productions/ Double Nickel Entertainment/ Malpaso Productions
Distribuição: Warner Bros.



Elenco
Clint Eastwood - Walt Kowalski
Christopher Carley - Padre Janovich
Bee Vang - Thao Vang Lor
Ahney Her - Sue Lor
Brian Harley - Mitch Kowalski
Geraldine Hughes - Karen Kowalski
Dreama Walker - Ashley Kowalski
Brian Howe - Steve Kowalski
Willian Hill - Tim Kennedy
John Carroll Lynch - Martin
Brooke Chia Thao - Vu
Scott  Eastwood - Trey
Doua Moua - Spider

O filme
     O aposentado Walt Kowalski é um veterano da Guerra da Coreia. Tem uma vida pacata, dividida entre pequenos consertos domésticos e a cerveja, mas sua rotina é abalada quando passa a ter como vizinhos imigrantes hmong, vindos do Laos. Walt os despreza. A situação se complica quando Thao, seu tímido vizinho adolescente, é obrigado, por uma gangue, a roubar o carro de Walt, um Gran Torino, seu grande orgulho, retirado da linha de montagem em 1972. Walt impede o roubo e com isso se torna um herói do bairro, especialmente para Sue, mãe de Thao, que insiste em trabalhar para Walt como forma de recompensá-lo.

Curiosidades
  • Os atores hmong foram selecionados em comunidades de Detroit, no Michigan; Saint Paul, em Minnesota; e Fresno, na Califórnia. Nenhum deles, com exceção de Doua Moua, já havia atuado em um filme.
  • Foi um dos primeiros filmes a utilizar a nova lei de incentivos fiscais aplicada pelo Estado de Michigan, de forma a atrair novas produções para o local, prática adotada em boa parte do mundo, mas que nos EUA é quase uma excentricidade.
  • A canção Gran Torino é apresentada nos créditos finais, sendo cantada por Clint Eastwood e Jamie Cullum. Esta versão consta apenas do filme, já que na trilha sonora Eastwood foi substituído por Don Runner.
  • Clint Eastwood, um dos mais respeitados diretores da atualidade, começou sua carreira como ator de filmes de ação, principalmente westerns. Menosprezado em boa parte do mundo, foi Jean Luc Godard, um cultuado cineasta francês que abalou o mundo com sua filmografia da década de 60, quem despertou a crítica especializada para o talento de Eastwood.
Algumas possibilidades de trabalho com o filme Gran Torino
  • Áreas curriculares: Linguagens e Códigos e Ciências Humanas
  • Sugestão de disciplinas: Língua Portuguesa, História, Geografia, Sociologia e Filosofia.
  • Tema: Ética, Pluralidade Cultural e Trabalho e Consumo.



Orientações Preliminiares
     Gran Torino é um filme que mostra aspectos da crise econômica e moral da sociedade estadunidense a partir da década de 1970. Além disso, é uma reflexão acerca da xenofobia e da intolerância em relação a outras culturas. Levando-se eem conta tais aspectos, recomenda-se a participação de diferentes disciplinas na discussão deste filme.

Atividades
     Antes de assistir ao filme, oriente os alunos para focarem sua atenção nas personagens (como o diretor as construiu, tom da fala, gestos, olhares, vestimentas). Quais são suas características como personagens?
  • Walt Kowalski
  • Thao (vizinho da etnia hmong)
  • Sue (irmã de Thao)
  • Ashley (neta de Kowalski)
    Verifique com os alunos as possíveis respostas para a questão: por que o filme se chama Gran Torino?




Atividade 1
     Um dos temas centrais do filme discorre acerca da decadência econômica na cidade de Detroit. Assim, o velho Kowalski, um veterano da Guerra da Coreia e metalúrgico da Ford, vive num mundo no qual valores caros a ele se esvaem, tais como hierarquia, respeito, disciplina e trabalho. A relação entre pai e fillhos ou avô e os netos é eivada pelo preconceito, escárnio, interesse material e desrespeito. Note-se que há uma representação da crise do American way of life, por um lado, e, por outro, uma crença nos valores fundamentais da "utopia americana": liberdade, livre-iniciativa, abertura ao outro perseguido pelas intolerâncias. Neste aspecto, o filme é ambíguo: critica a decadência da América - representada pela família arrivista e "nova-rica" do velho Kowalski - mas projeta a utopia da liberdade e tolerância como fundadoras da "América" nos projetos dos imigrantes.
       É interessante notar que o filme pode ser lido como um sintoma das transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho, mais especificamente as transformações do taylorismo/fordismo para o toyotismo.
     Assim, oriente os alunos para que, em grupo, escrevam um texto dissertativo-argumentativo com o intuito de explicar os fatores da decadência econômica e moral dos EUA, especificamente Detroit. Para tanto é preciso:
  • observar a relação entre Walt Kowalski e seu filho Mitch (vendedor de carros, pai de Ashley);
  • observar a relação entre Walt Kowalski e Thao (especialmente quando passa a ser seu tutor); 
  • observar a relação entre Walt Kowalski e o carro Gran Torino, da Ford;
  • ler textos em livros didáticos de História e de Geografia sobre as mudanças no mundo do trabalho ocorridas a partir da década de 1970;
  • pesquisar, na internet, informações sobre a cidade de Detroit. Seria interessante comparar as transformações ocorridas em Detroit com as que ocorreram no Brasil, principalmente na região do ABC, em São Paulo.



Atividade 2
     O filme aborda questões em torno da xenofobia/intolerância cultural. Kowalski (nome polonês) e seus amigos (barbeiro italiano, irlandeses beberrões, etc.) são imigrantes brancos, mas estão fora do padrão tradicional da etnia fundadora dos EUA: branca, anglo-saxão e protestante (a família Kowalski é católica). Portanto, o filme tensiona os preconceitos dos velhos imigrantes já estabelecidos e aceitos - até por serem brancos europeus, mesmo sem serem Wasp - White Anglo-Saxon Protestant (anglo-saxão branco e protestante) e os novos imigrantes, asiáticos. Os negros têm um papel menor no filme quando aparecem, são mostrados como delinquentes. É um filme que problematiza, para além do "politicamente correto", as questões raciais dos EUA. É importante destacar que a questão racial no Brasil não deve ser pensada nos mesmos termos sociológicos e culturais dos EUA.

      Promova um debate com o intuito de discutir tais questões. Para tanto, peça aos alunos que observer:
  • as características da casa de Walt Kowalski e as transformações, em termos da composição étnica da população, que ocorreram no lugar no qual mora;
  • os termos linguísticos que Walt Kowalski utiliza para se referir aos grupos étnicos diferentes;
  • o diálogo de Walt Kowalski com Sue, principalmente na casa dela, no dia de seu aniversário (capítulos 11 e 12, aproximadamente aos 42 minutos).

Para pesquisar e debater:
  • Peça que os alunos leiam no site Médicos Sem Fronteiras (www.msf.org.br) uma notícia acerca da situação da etnia hmong atualmente.
  • Seria interessante comparar a questão do preconceito na cidade/comunidade onde a escola está inserida, principalmente em relação a pessoas afrodescendentes e de origem nordestina. Peça para aos alunos pesquisarem notícias na internet.
  • Como o filme faz referência às Guerras da Coreia e do Vietnã, proponha aos alunos pesquisarem, no livro didático ou na internet, e registrarem em fichas as informações factuais - o quê, onde, quando e principais características - desses acontecimentos.
  • *Caderno de Cinema do Professor 4
Outro filme: Entre os Muros da Escola. Direção: Laurent Cante, 2008, 128 minutos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Partida







A Partida (Okuribito)
Gênero: Drama
Duração: 130 minutos
Lançamento: 2008
Produção: Japão
Classificação etária: 10 anos

Ficha Técnica:
Direção: Yojiro Takita
Roteiro: Kundo Koyama
Produção: Toshiaki Nakazawa, Toshihisa Watai e Ichirô Nobukuni
Fotografia: Takeshi Hamada
Montagem: Akimasa Kawashima
Música: Joe Hisaishi
Estúdios: Amuse Soft Entertainment/Dentsu/Mainichi Hoso/Sedic/Shochiku Company/Asahi Shimbunsha
Distribuição: Paris Filmes

Elenco:
Masahiro Motoki – Daigo Kobayashi
Tsutomu Yamazaki – Ikuei Sasaki
Ryoko Hirosue – Mika Kobayashi
Kazuko Yoshiyuki – Tsuyako Yamashita
Kimito Yo – Yuriko Kamimura
Takashi Sasano – Shokichi Hirata



O filme:  Um violoncelista retorna à sua cidade natal após a orquestra em que tocava ser dissolvida. Lá ele passa a trabalhar em uma casa funerária, na preparação dos mortos para o enterro. A profissão, cercada de tabus, revela um mundo novo e delicado ao violoncelista e ele acaba fazendo dela sua arte.
Curiosidades:
·       Ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009.
·       Ganhou o Grand Prix des Amériques no Festival de Montreal.
·       Ganhou o prêmio de Melhor Filme – Juri Popular no Festival de Palm Springs.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme A Partida
·       Áreas curriculares: Linguagens e Códigos/Ciências Humanas
·       Sugestão de disciplinas: Língua Portuguesa, Artes, História, Geografia, Sociologia e Filosofia.
·       Temas: Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo:
cultura e sociedade; felicidade e temas contemporâneos – morte e prazer; a humanidade na diferença; conteúdos simbólicos da vida humana; tradição e ruptura, permanências e mudanças.

Considerações preliminares:
     Todos sabemos que qualquer filme a ser trabalhado em aula deve ser assistido previamente pelo professor. Em A Partida, esse cuidado se faz particularmente necessário. É de fundamental importância que o professor reflita previamente sobre a condição de sua turma para assistir a obra, considerando a complexidade e a delicadeza de seu tema.        Dessa forma, a participação de professores de diferentes disciplinas sempre é fator de fortalecimento do processo de análise. Cada disciplina poderá selecionar uma ou mais atividades referentes ao filme, promovendo, assim, a troca e a soma de interpretações e pesquisas.
     O filme trata de uma especificidade da cultura japonesa em relação aos rituais de morte, mas a abordagem dessa particularidade acaba por nos remeter à reflexão acerca de uma condição que é universal. No caso desse filme, pensar sobre a morte e seus rituais equivale a fazer, necessariamente, uma profunda reflexão sobre a vida.

Atividades:
Símbolos e expressão de sentimento:
     Esta é uma possibilidade para fazer um “aquecimento” com os alunos, antes de assistir ao filme. O professor poderá solicitar que tragam ou descrevam um objeto de que gostam muito ou que retrate algum momento de sua vida, e que possam compartilhar com os colegas, expondo:
·       O significado do objeto – por que passou a fazer parte de sua vida;
·       Os sentimentos que esse objeto simboliza.

             O título original:
                   Solicite aos alunos que descubram o significado do título original (Okuribito, em japonês- Okuri= levar, bito=pessoa) com alguém que domine esse idioma ou em pesquisa na internet. Peça que estabeleçam a relação do título original com a história do filme e o comparem com o título dado em português, registrando suas conclusões em um pequeno texto.

               Ver, ouvir e observar:




     O filme está repleto de sons, silêncios, cores, formas e paisagens. Reflita com seus alunos sobre os seguintes aspectos e seus significados:
·       A música ocupa papel de destaque no filme. Em que momentos ela é utilizada como um elemento importante na história do filme? Outro exercício seria identificar as músicas utilizadas. Nona Sinfonia de Beethoven; Ave Maria de Gounoud e Wiegenlied de Brahms (que remete à memória do pai do protagonista).
·       Da mesma forma, como o silêncio é utilizado no filme? Peça aos alunos que observem os recursos utilizados pelo diretor para que, mesmo com o mais absoluto silêncio, as cenas veiculem uma profusão de informações e diálogos.
·       De que maneira o som e a imagem contribuem para o expectador compreender a passagem do tempo na história do filme? Pode-se destacar os indicadores de tempo utilizados, tais como o tempo da natureza e as variações da música.
·       Há várias cenas em que o diretor utiliza o recurso do close, retratando o rosto das personagens de forma bem próxima. Discuta com os seus alunos quais poderiam ser as finalidades da utilização desse recurso.

Permanências e mudanças

     Em meio a um Japão moderno e tecnológico, o filme aborda a sobrevivência ou a luta pela manutenção de algumas tradições. Para refletirmos acerca das permanências e mudanças que o filme apresenta, solicite aos alunos para indicarem cenas em que sejam abordados, por exemplo, os seguintes aspectos:
·       Valores e hábitos tradicionais da cultura japonesa;
·       Conflito de gerações;
·       Ocidentalização ou adoção de novos valores e hábitos.

Os alunos poderão elaborar um quadro comparativo, contendo os principais elementos do filme que indicam as permanências/tradições e mudanças/rupturas.

     Outra possibilidade seria destacar pontos específicos a serem observados no filme, conforme os exemplos seguintes. Inicialmente, é importante que o grupo reflita sobre o que são rituais e preconceitos, para então abordar as perspectivas apresentadas pelo filme.

     A classe pode ser organizada em grupos, de maneira que cada um seja responsável pela análise de um tema diferente, entre os sugeridos a seguir.

Os rituais:


·       O filme apresenta um ritual mortuário de grande relevância na cultura japonesa. Peça ao grupo que analise se esse ritual contém aspectos que representam a tradição ou a modernidade do Japão.
·       No filme, é possível observar que esses rituais se constituem como um momento de profunda elaboração da perda para familiares e amigos. Peça ao grupo que analise a forma como o filme apresenta o comportamento das personagens antes, durante e após a realização do ritual.
·       Peça aos alunos que pesquisem como outro povos e países – tais como México, China, Egito antigo, India,Tibete, EUA e Espanha, entre outros – tratam os rituais de morte, comparando-os com os existentes no Brasil.
Preconceitos:

·       O filme apresenta uma situação de preconceito que desvaloriza uma profissão, embora, contraditoriamente, seu trabalho seja parte de um ritual socialmente aceito. Na opinião dos alunos, por que essa situação ocorre?
·       Há mais situações que envolvem outras formas de preconceito no filme? Peça ao grupo que descreva as cenas em que esss situações se apresentam.
·       Avaliando a maneira como o filme tratou as situações de preconceito, reflita com o grupo se o diretor está contribuindo ou não para que esses preconceitos sejam superados e por quê.
·       Partindo de nossa vida cotidiana, quais situações de preconceito abordadas no filme possuem paralelo com outras vivências ou presenciadas pelos alunos? É possível superar um preconceito? De que maneira?
                      O trabalho:
·       O filme destaca algumas profissões. Peça ao grupo para refletir sobre elas, analisando quais representam a tradição e quais, a modernidade. Analise, ainda, por que algumas são socialmente valorizadas e outra não. É possível observarmos o mesmo contexto no Brasil? Em que situações?
·       O protagonista passa por uma situação de completa mudança em sua vida profissional, vivenciando o conflito de transitar de uma profissão socialmente respeitada – músico erudito – para outra socialmente desvalorizada. Solicite ao grupo que descreva essa trajetória e analise as atitudes e posturas assumidas pelo protagonista.
·       Como o filme apresenta a questão do desemprego? Proponha aos alunos que comparem essa situação com a que vivemos no Brasil.
                      Após essas  discussões, cada grupo irá apresentar suas conclusões para a classe. Havendo possibilidade, os grupos destacariam trechos do filme que ilustram suas análises e comentários.

A condição humana
     O filme suscita reflexões profundas sobre a vida, especialmente acerca de nossas opções, realizações e relações interpessoais. Assim, pode-se propor aos alunos uma reflexão conjunta, a partir das seguintes sugestões:
·       O filme demostra a dificuldade que algumas personagens tinham para expressar – e, portanto, para viver – os sentimentos. Registre com a turma que cenas ou situações revelam essa dificuldade. Discuta com eles quais teriam sido, de acordo com o filme, as conseqüências dessa dificuldade de expressão para as personagens envolvidas. Essas situações se refletem na vida real?
·       Em relação à trajetória profissional do protagonista do filme, podemos afirmar que o faz sentir-se realizado? Por que? O que é necessário, na opinião dos alunos, para que uma pessoa se sinta profissionalmente realizada? Pode-se, assim, aproveitar o filme para abordar um tema que tem ficado em segundo plano no mundo “globalizado”, assolado pelo desemprego estrutural e automatizado: a dignidade do trabalho e, por seu intermédio, a realização do ser social e humano, ainda que desvalorizado social e economicamente.
·       Solicite aos alunos que comparem o fragmento abaixo com as questões suscitadas pelo filme e elaborem, em duplas ou pequenos grupos, um texto com suas conclusões.

     Segure firme o tempo! Vigie-o, vele por ele, cada hora, cada minuto! Se não prestar atenção, ele escapa... que cada momento seja sagrado. Dê a cada um clareza e significado, a cada um o peso da sua consciência, a cada um a sua verdadeira e devida realização.
Thomas Mann
Citado por: L. Marinoff. Mais Platão. Menos Prozac

·       Se for possível, estabeleça um diálogo “fílmico” com o último episódio do filme Sonhos (EUA/Japão,1990), de Akira Kurosawa, em que a morte é tratada de forma bastante poética.
·       Para concluir, retome com os alunos a primeira atividade proposta, relacionando-a ao filme e refletindo sobre o que a pedra simboliza no contexto daquela história.
*Caderno de Cinema do Professor 4