domingo, 30 de janeiro de 2011

Crianças Invisíveis (All the invisible children)

Crianças Invisíveis (All the invisible children)



Gênero: Drama
Duração: 116 minutos
Lançamento: 2005
Produção: Itália
Classificação etária: Livre

Ficha técnica
Direção: Mehdi Charef (África do Sul),
Kátia Lund (Brasil), John Woo (China),
Emir Kusturica (Sérvia e Montenegro),
Spike Lee (Estados Unidos), Jordan
Scott (Inglaterra), Ridley Scott (Inglaterra)
E Stefano Veneruso (Itália).
Roteiro: Mehdi Charef, Diego de Silva,
Stribor Kusturica, Cinqué Lee, Joie Lee,
Spike Lee, Qiang Li, Kátia Lund, Jordan
Scott e Stefano Veneruso.
Produção: Maria Grazia Cucinotta, Chiara
Tilesi e Stefano Veneruso.
Fotografia: Philippe Brelot, Cliff Charles,
Changwei Gu, Toca Seabra, Vittorio
Storaro, Jim Whitaker e Nianping Zeng.
Música: Terence Blanchard, Ramin
Djawadi e Hai Lin.
Edição: Barry Alexander Brown, Robert
A.  Ferreti e Dayn Williams.

Elenco:
Francisco Anawake – João
Maria Grazia Cucinotta – Atendente do bar
Damaris Edwards – La Queeta
Vera Fernandez – Bilu
Hazelle Goodman – Sra. Wright
Hannah Hodson – Blanca
Zhao Zhicum – Song Song
Wenli Jiang – Mãe de Song Song
David Thewlis – Jonathan
Jake Ritzema – Jonathan jovem
Kelly Macdonald – Esposa de Jonathan
Rosie Perez – Ruthie
Andre Royo – Sammy
Qi Ruyi – Cat
Lanette Ware – Monifa

O filme
     Seja coletando sucata nas ruas de São Paulo ou roubando para viver em Nápoles e no interior da Sérvia e Montenegro, o filme é uma junção de sete curtas-metragens em que os protagonistas são crianças que lidam com uma realidade nada fácil, na qual crescer muito acaba sendo a única saída.


Curiosidade
·       Cada curta foi realizado por um  diretor, em um país diferente: Brasil, Itália, Inglaterra, Sérvia e Montenegro, Burkina Faso, China e Estados Unidos.
·       Todos os diretores trabalharam de graça ao realizarem seus curtas para Crianças Invisíveis e parte da renda do filme é destinada ao Unicef e ao Programa Mundial contra a Fome.
·       É muito comum que um longa-metragem seja o resultado do somatório de alguns curtas. Esse é um formato muito usado pela cinematografia de vários países. Entre os exemplos brasileiros vale a pena conhecer o filme Cinco Vezes Favela, com curtas de Marcos Farias, Miguel Borges, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman.





Algumas possibilidades de trabalho com o filme Crianças Invisíveis

·       Áreas: Linguagens e Códigos / Ciências Humanas
·       Sugestão de disciplinas: Arte / História / Geografia
·       Tema: Ética (Direito da Criança, Responsabilidade Social, Valores Éticos).
·       Sugestão de assuntos: Gênero do filme, construção das personagens e situações, aspectos estéticos de cenas/imagens, contexto histórico, matrizes culturais.

Orientações preliminares

     Trata-se de um filme composto por sete curtas-metragens dirigidos por diretores de vários países. Sugere-se, então, que os professores iniciem o trabalho com os alunos apresentando os créditos de cada curta, onde são informados os nomes do diretor e o continente/país em que foi filmado, etc. Ressaltar que foi produzido com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef.
     O filme, por sua temática e argumento, pode ser objeto de análise de professores e alunos em quaisquer das disciplinas, apresentando elementos para o tratamento de temas como moral, moralidade, responsabilidade social, preconceito, solidariedade, etc.
Atividades
     Depois de os alunos assistirem ao filme, a discussão pode ser centrada nos seguintes eixos:
Direitos da criança
     Indague aos alunos o sentido do título do filme, conduzindo a discussão para a análise das condições de “vida adulta” dessas crianças: guerrilheiros, meninos que furtam para sustentar a família ou para sobreviver, autoproteção na ausência da família, trabalho explorado, além da ameaça de perda do exercício do direito à educação. Como referencial para essa análise, apresente aos alunos a Declaração dos Direitos da Criança, que pode ser obtida nesses sites:
·       www.direitos.org.br

Responsabilidade social

     Pergunte aos alunos qual é a crítica que os curtas apresentam em relação aos responsáveis por essa situação das crianças. Reflita com eles que, além dos personagens criados, como o pai e o diretor do reformatório em Ciganos Azuis, a participação dos pais na doença da menina e o preconceito de colegas e da mãe de um deles em Jesus Criança da América, os pais e o receptador em Ciro, os negociadores de Bilu e João e o explorador do trabalho infantil em Song Song, há também uma crítica à sociedade e ao Estado por essa situação de guerra e pobreza. No caso do filme Jonhathann, com a participação do jornalista há o questionamento de que somos cúmplices do sistema quando só nos comprometemos em observar/registrar a crueldade da realidade.
Identificação de valores éticos
     Solicite aos alunos que identifiquem nos curtas as personagens/situações nas quais estão presentes ou não o diálogo como forma de esclarecer conflitos; o respeito mútuo, independentemente das diferenças, a justiça e a solidariedade.
Caracterização do gênero do filme
     Pergunte aos alunos se o filme é uma ficção ou um documentário. Discuta com eles a diferença entre esses dois gêneros, tendo como referência episódios que parecem estar documentado as condições de vida das crianças. Aborde a questão da representação da realidade pelo cinema, que tanto na ficção como no documentário é parcial e subjetiva, e que não há uma delimitação  clara entre esses dois gêneros.
     Questione com os alunos o que há de verdade nesse filme de ficção, relacionando aos gêneros documentário, que documenta a realidade, mas também é uma representação porque há escolhas sobre o que se mostra e como se mostra.
Construção das personagens e situações
     Peça aos alunos que identifiquem a dualidade criança/adulto das personagens. Exemplificando, em Tanza, seu estilingue e lápis escondidos na pedra e a escrita na lousa da escola que ele valoriza, mas vai destruir; em Ciro, o uso que faz do dinheiro obtido no roubo; em Bilu e João, o jogo inventado por eles para minimizar as perdas nos negócios que os adultos lhes impõem. Discuta, também, as perspectivas de vida – promissoras ou não – propostas para as personagens/crianças, em cada episódio.
Cenas/imagens
     Pergunte aos alunos quais foram as cenas que consideraram mais marcantes do ponto de vista da estética da linguagem cinematográfica, e peça para explicarem por quê. Para incentivá-los, o professor pode ressaltar algumas cenas dos curtas, como a final do episódio Bilu e João, com o enquadramento na favela e prédios ultramodernos ao fundo; o salto do menino, caindo de volta no Reformatório, para salvar-se do mundo, em Ciganos Azuis, etc.
Contexto histórico
     Para ampliar a compreensão do contexto onde os episódios ocorrem, organizar os alunos em grupos de pesquisa sobre os temas:
·       África: países africanos que poderiam ter sido cenário do filme (pesquisar os países em conflito na África, origens dos conflitos, o papel dos grupos de guerrilha).  


·       Sérvia e Montenegro: a participação da etnia cigana na formação do país (pesquisar o processo de formação do país, sua composição étnica, a distribuição geográfica no país e a participação política de cada grupo étnico).


·       Brasil: subemprego (pesquisar participação da economia de mercado na economia brasileira e o processo de formação da economia informal no quadro da modernização do país).


·       China: situação socioeconômica da China contemporânea (pesquisar a participação da China na economia mundial e a questão social perante o modelo atual de planificação econômica).


·       Unicef: solicitar uma pesquisa sobre o papel do Unicef no mundo atual.
·       Matrizes culturais: alguns trechos podem ser selecionados para analisar as matrizes culturais presentes no filme e a situação geopolítica da África e da Europa.
·       Pré-roteiro de filme: após a análise do filme, solicitar aos alunos a criação coletiva de uma pequena história que possa, posteriormente, transformar-se no roteiro de um filme sobre uma personagem/criança, em que estejam identificados: localidade, situação social, contexto familiar, desejos e fantasias, com trama e desfecho definidos.
*Caderno de Cinema do Professor 4

sábado, 15 de janeiro de 2011

Arquitetura da Destruição (Undergangens Arkiektur)




Gênero: Documentário
Duração: 121 minutos
Lançamento: 1989
Produção: Alemanha
Narração: Bruno Ganz
Classificação etária: 14 anos

Ficha Técnica:
Direção, produção, roteiro, edição e trilha sonora: Peter Cohen
Fotografia: Mikael Cohen, Gerhard Fromm, Peter Ostlund
Trilha sonora: Hector Berlioz

O filme
     Arquitetura da Destruição está consagrado internacionalmente como um dos melhores estudos já feitos sobre o nazismo no cinema. O filme de Peter Cohen lembra que chamar a Hitler de artista medíocre não elimina os estragos provocados por sua estratégia de sua conquista universal. O veio artístico do arquiteto da destruição tinha grandes pretensões e queria dar uma dimensão absoluta à sua megalomania. Hitler queria ser o senhor do universo, sem descuidar de nenhum detalhe da coreografia que levava as massas à histeria coletiva a cada demonstração.
     O nazismo tinha como um dos seus princípios fundamentais a missão de embelezar o mundo. Nem que, para tanto, destruísse todo o mundo.



Curiosidades
     Vale ressaltar que Adolf Hitler era, ele mesmo, um apreciador das possibilidades do cinema. Tanto que contratou a cineasta alemã Leni Riefenstahl para realizar filmes de propaganda sobre o III Reich. Leni acabou realizando, entre outros, um dos maiores clássicos do documentário mundioal, O Triunfo da Vontade (1935), onde mostrava convenção anual do partido nazista em Nurembergue, em 1934. Execrável do ponto de vista ideológico e humanitário, o cinema de Leni acabou por se tornar admirável do ponto de vista estético.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Arquitetura e Destruição
  •  Áreas Curriculares: Ciências Humanas e Linguagens e Códigos.
  •  Sugestão de disciplinas: História e Arte.
  • Temas: Ética e Pluralidade Cultural (Regimes totalitários - o nazismo, Segunda Guerra Mundial1, Respeito mútuo, Justiça, percepção da produção artística como forma de expressão).
 
      

Orientações preliminares
     Arquitetura da Destruição é um documento com cerca de duas horas de duração, por isso sugere-se o recorte de momentos considerados de merecido destaque. Aqui se indica o trecho2 do filme que fala da "arte degenerada" (aos 12 minutos) e de um dos trechos em que são mostradas as obras das "Grandes Exposições de Arte Alemã" (por exemplo, a de 1938, capítulo 5, aos 44 minutos).

  

Atividades
     Como sensibilização, exiba a apresentação de Leon Cakoff (extras do DVD), chamando atenção para várias questões, entre as quais o tempo de pesquisa (sete anos) que o diretor Peter Cohen usou para embassar o documentário. Outra questão importante é a visão cruel e distorcida do uso da destruição para a construção de outra sociedade.
    Dando início à sequência didática propriamente dita, apresente aos alunos uma reprodução da tela Guernica3 . Faça com eles a "leitura" e a interpretação da obra4.
     A seguir, exiba os trechos sugeridos do filme, solicitando aos alunos que fiquem atentos à comparação entre as duas visões de mundo representadas por ambas as correntes artísticas. É fundamental que sejam lançadas questões aos alunos:
  • Como são as obras ditas degeneradas?
  • Qual foi a relação feita pelos nazistas entre esta corrente artística e a sociedade em que viviam?
  • E as obras da "Grande Exposição de Arte Alemã", como são?
  • Qual foi a relação estabelecida pelo nazismo entre esta corrente com a sociedade que desejavam alcançar (ordem, limpeza e perfeição)?
     É propício que você, professor, elabore outras questões que julgue necessárias.
     À medida que os alunos forem dando as respostas, anote-as na lousa, pedindo a todos que as escreveram em seus cadernos.
     Solicite que os alunos exponham suas impressões respondendo à questão: Quais são as diferenças entre Guernica e as obras da "Grande Exposição"?
   









  Solicite aos alunos que leiam em seu livro didático6 o texto sobre o período entreguerras e converse com eles, relatando alguns dos fatores que levaram à Segunda Guerra Mundial, sobre seu desenvolvimento e sobre o Holocausto7.
     Peça que falem sobre suas impressões, corrija colocações equivocadas, explique pontos que considere importantes e que não tenham sido mencionados pelos alunos. Em seguida, solicite aos alunos que produzam um texto onde exponham sua opinião sobre a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, o papel da arte alemã do período e de obras como a de Picasso nesse contexto.
     Como último momento, compare o conhecimento que os alunos tinham no início e o que foi ampliado, ressaltando principalmente a Segunda Guerra Mundial e suas consequências da Arte nesse contexto.

1 Levando-se em conta a estrutura da Proposta Curricular de História, considera-se que a atividade ora sugerida é aconselhada para a 3a. série do Ensino Médio, já que no dois primeiros bimestres há a proposição do trabalho  com os conteúdos aui apontados, temas que permitem o desenvolvimento de habilidades como selecionar, relacionar e interpretar dados e informações de diferentes formas.

2 A despeito da opção pelo recorte do filme, é importante que, dentro das possibilidades, os alunos tenham acesso à obra completa.


3 Tela cubista de Pablo Picasso (1937), que retrata o ataque das forças alemãs à capital da região basca que dá nome ao quadro, sob as ordens do ditador espanhol Franco.

4 Após levantamento coletivo dos elementos que compõe a obra (leitura iconográfica ou formal da obra), trabalhe com questõe3s como (leitura leitura iconológica ou interpretativa da obra): Qual poderia ser o significado da língua em forma de punhal da mãe com o filho morto no colo? (seria uma alusão à dor intensa da personagem, que acaba de perder seu bem mais precioso). O que poderia dizer o cavalo no centro da obra? (representaria o povo espanhol, dilacerado em sua luta). O que faz o touro no canto superior esquerdo? (representaria a brutalidade da situação vivida pela população espanhola em Guernica, representada pelo touro, animal tão caro ao povo da Espanha). E a lâmpada no centro da tela, o que quer dizer? (seria a luz Divina onisciente, mas que permite ao homem exercer seu livre arbítrio?). E por último, a singela flor presente na pintura, o que faz ali? (representaria a esperança que sempre resiste?).

5 Faça-os perceber que são obras totalmente diferentes, pois enquanto a tela de Picasso pretende expor a morte, a destruição e a dor causada pelos nazistas em seu país (a Espanha), as criações presentes nos Salões buscam formar o imaginário do povo alemão pautado na superioridade da raça ariana, nestas obras representadas pela beleza e perfeição, em uma clara contraposição à sociedade "impura", representada por ciganos, portadores de necessidades especiais, judeus, homossexuais e outros.

6 Mas lembre-se de trabalhar de forma a ativar as estratégias de leitura que se aplicam quando se lê (antecipação, inferência, seleção, checagem e decodificação), pedindo que falem o que já sabem sobre este fato antes da leitura, indicando que busquem no texto elementos externos a ele que os ajudem a entendê-lo melhor (títulos, subtítulos, fotos, mapas, gráficos, legendas, etc.), solicitando que relacionem o que estiverem lendo com o que jpa viram nos trechos do filme, na tela de Picasso, em outras leituras e no que já foi discutido e apresentado por você.


7 As imposições presentes no Tratado de Versalhes, a situação vivida pela Alemanha no período entreguerras, o papel de Hitler nesse contexto, a responsabilização dos judeus pela crise alemã.
   *Caderno de Cinema do professor 1

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Banheiro do Papa (El Baño del Papa)



Gênero: Drama
Duração: 97 minutos
Lançamento: 2007
Produção: Brasil/França/Uruguai
Site oficial: www.obanheirodopapa.com.br
Classificação etária: 10 anos

Ficha técnica:
Direção: César Charlone e Enrique Fernández
Roteiro: César Charlone e Enrique Fernández
Produção: Elena Roux
Fotografia: César Charlone
Montagem: Gustavo Giani
Direção de arte: Ines Olmedo
Música: Luciano Supervielle e Gabriel Casacuberta
Figurino: Alejandra Rosasco
Estúdios: O2 Filmes / Laroux Cine / Chaya Films
Distribuição: César Charlone e Enrique Fernández

Elenco:
César Trancoso - Beto
Virginia Mendez - Carmen
Virginia Ruiz - Silvia
Mario Silva - Valvulina
Henry de Leon - Nacente
Jose Arce - Tica
Nelson Lence - Meleyo
Rosario dos Santos - Teresa
Alex Silva - Gordo Luna
Baltasar Burgos - Capitão Alvarez
Carlos Lerena - Soldado



O filme:
     Em 1988, o papa João Paulo II visitaria a humilde cidade de Melo - que fica na fronteira do Uruguai com o Brasil. Os moradores mobilizaram-se numa série de preparativos para a chegada do religioso. Estimava-se a visita de centenas de milhares de visitantes e os moradores contavam com esse evento para mudarem de vida. Muitos venderam casas, terrenos e outros pertences para comprar carnes, linguiças, pães e afins para abastacer o público esperado com comida suficiente. O filme acompanha principalmente o drama de Beto (César Troncoso) e sua família: ele tem a ideia de contruir um banheiro coletivo para o uso dos visitantes.









Curiosidades:
  • Estrela de César Charlone e Enrique Fernández na direção de longa-metragem.
  • César Charlone, uruguaio de nascimento, contruiu carreira como diretor de fotografia no Brasil. Seu trabalho em Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, acabou projetando-o mundialmente.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme O Banheiro do Papa
  • Áreas curriculares: Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Linguagens e Códigos.
  • Sugestão de disciplinas: Geografia, História, Biologia, Arte e Língua Portuguesa.
  • Temas: Trabalho e Consumo: trabalho informal, desigualdade social, saneamento básicos, linguagens.
Orientações preliminares:
     Produzido no Uruguai em 2007 e fundamentado em fatos reais, o filme mostra a visita do papa João Paulo II, em 1988, a Melo, uma cidade pequena e muito pobre localizada na fronteira entre o Uruguai e o Brasil. A chegada do Papa é apenas pano de fundo para mostrar a condição social precária dos moradores de Melo, condição essa abordada de forma realista, sem apelações de ordem sentimental. O filme também exalta a esperança e a solidariedade, mesmo em meio à miséria.


    A temática do filme possibilita explorar vários elementos: o trabalho informal (condição dos cargueiros), a manipulação pela mídia (verificandocomo o rádio e a televisão manipulam os números e as notíciass da chegada dos brasileiros à cidade), a pobreza (condição da cidade e dos habitantes), a esperança (momentos em que a fé se confunde com a necessidade de renda e trabalho), a solidariedade (a união em torno do objetivo de construir um banheiro) e a desagregação familiar (nas atitudes de Beto, que não consegue suportar sua condição e por vezes se entrega ao álcool e à violência contra a mulher). Assim, o filme possibilita ampliar o repertório dos alunos para além da estética hollywoodiana, em que predominam estereótipos e o sensacionalismo.
    É importante ressaltar que a participação das diferentes disciplinas, na preparação, exibição e discussões posteriores, é fundamental para a realização das atividades propostas. Assim, aconselha-se que os professores envolvidos possam fazer as adequações necessárias de conteúdo para as diferentes turmas.

Atividades:
     Discutindo...


     O Banheiro do Papa traz à tona o trabalho informal dos cargueiros (homens que atravessam a fronteira com o Brasil para abastecer o comércio local) que, com suas bicicletas ou motocicletas, buscam, em território brasileiro, mercadorias para o comércio local.
     Sugiro que o professor discuta com os alunos as condições de trabalho desses cargueiros, bem como as implicações sociais, econômicas, físicas e emocionais que esse trabalho acarreta para eles e suas famílias. Para tanto, é necessário retomar algumas cenas do filme: como é o percurso entre as duas cidades? Quais são as dificuldades encontradas? Como a corrupção e a exploração aparecem no filme? Quais são as condições de vida desses cargueiros e de suas famílias?
     A partir da discussão do filme, os alunos poderão traçar um paralelo entre a realidade retratada no filme e das cidades brasileiras, destacando semelhanças e diferenças entre essas realidades.

     

Explorando:
     O roteiro de um filme pode ser entendido como "esboço de uma narrativa que será realiizada através de imagens e sons numa tela de cinema ou TV"1 . Assim, nesse exercício, sugerimos um trabalho para explorar a estrutura do filme e entender como se desenvolve sua narrativa, como a fábula é construída e esboçada por meio de seu roteiro.
     Solicite aos alunos que revejam o filme e recontem a história de forma sucinta e ordenadda em forma de escaleta2.
     Explique a eles que cena é "unidade dramática de ação contínua" 3, ou seja, pode ser entendida como um trecho do filme que conta uma parte da história de forma completa; já a sequência "é uma série de cenas ligadas, ou conectadas, por uma única ideia"4.
     O objetivo desse exercício é que os alunos reproduzam, de certa forma, o roteiro que foi utilizado para a filmagem, discutindo os elementos que servem de apoio à narrativa, tais como a locação, as músicas incidentais, os objetos e outros elementos. Eles devem perceber como a narrativa é desenvolvida: quais foram as escolhas do roteirista para narrar a história, como ele hierarquizou as cenas para criar no espectador a visão geral do que está sendo narrado, como os acontecimentos ganharam em significado e quais foram as soluções encontradas para a história convencer o espectador. Após esse exercício, que pode ser feito em grupos, os alunos podem elaborar um roteiro único.

     Problematizando...
     O filme também pode desencadear uma interessante pesquisa com os alunos, uma vez que, pelo título, poderíamos imaginar como seria o banheiro de um papa: gigantesco, majestoso, cheio de ouro. Porém, não é isso que o filme retrata, pelo contrário, a ideia de Beto (protagonista) de montar um banheiro para atender aos visitantes implica alguns questionamentos em relação à infraestrutura da cidade uruguaia de Melo. Dessa forma, é possível orientar os alunos a fazer, em pequenos grupos, uma pesquisa sobre o saneamento básico do entorno da escola ou do município. As diversas fontes de pesquisa seriam a biblioteca da escola, sites, livros didáticos, documentários. O resultado da pesquisa pode ser a produção de um documento retratando as condições desse saneamento. É possível preparar um roteiro de entrevistas ou uma saída a campo para colher imagens e depoimentos. O documenntário pode ser exibido no site da escola ou em outros sites. Mas não se esqueça, professor: sua mediação é fundamental.

Outras sugestões:
     As questões a seguir, depois de pesquisadase discutidas pela turma, podem ser apresentadas de diferentes formas: texto em prosa ou poesia narrativa, letra de música, roteiro de curta-metragem ou de uma peça teatral, e ainda a construção de gráficos, mapas, etc.

  • Como o filme retrata o impacto das mudanças e das consequências decorrentes do final da década de 1980 na América Latina, sobretudo no Uruguai e no Brasil?
  • O trabalho infantil, a profissão, a carreira e o sonho: para desenvolver este tema, sugerimos retomar a situação da personagem Silvia, convocada para trabalhar com o pai como cargueira, abandonando assim o sonho de ser locutora.
  • Discutir o papel da mídia, uma vez que recai sobre os meios de comunidação uma crítica ao espetáculo vazio e ilusório que ela propicia no decorrer da narrativa.
  • Pode-se discutir o conceito de fronteira (Geografia), pesquisando outras situações do mundo onde ocorrem coisas diversas daquela mostrada no filme, tais como entre os Estados Unidos e o México, Brasil e Paraguai, África e Europa e muitas outras, analisando também suas significações e implicações.
  • As relações de trabalho formal ou informal, as condições da mão-de-obra pelo Brasil e o mundo.
  • Os eventos religiosos, sua relação com o comércio desse tipo de acontecimento.
  • *Caderno de Cinema do Professor 4
1 - CAMPO, Flávio. Roteiro de cinema e televisão: a arte e a técnica de imaginar, perceber e narrar uma estória. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
2 - Descrição resumida das cenas de um roteiro, na sua sequência. In:CAMPO,Flávio, op.cit.
3 - REY,Marcos. O roteirista profissional:TV e cinema. São Paulo:Ática, 1997.
4 - FIELD,Syd. Manual do roteiro os fundamentos do texto cinematográfico. Rio de Janeiro:Objetiva, 1995.
5 - Sites de pesquisa das cidades de Aceguá (BR) e Melo (UR) e de dados sobre o Uruguai: