sábado, 5 de dezembro de 2009

O Pagador de Promessas

Gênero: Drama
Duração: 95 minutos
Lançamento: 1962
Produção: Brasil
Classificação etária: 12 anos  





Ficha Técnica: 
Direção: Anselmo Duarte
Roteiro: Anselmo Duarte
Produção: Oswaldo Massaini
Fotografia: Henry Chick Fowle
Música: Gabriel Migliori
Edição: Carlos Coimbra

Elenco:
Leonardo Villar - Zé do Burro
Glória Menezes - rosa
Dionísio Azevedo - Padre Olavo
Norma Bengell - Marli
Geraldo Del Rey - Bonitão
Othon Bastos - Repórter

O filme:
     Zé do Burro e sua mulher Rosa vivem em uma pequena propriedade a 42 quilômetros de Salvador (Bahia). Um dia, o burro de estimação do Zé foi atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara para salvar seu animal.
    Com o restabelecimento do animal, Zé põe-se a cumprir a promessa: doa metade de seu sítio para depois começar a caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a via crúcis de Zé se torna ainda mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com o cafetão Bonitão e ao encontrar a resistência ferrenha do padre Olavo a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão de Zé ter feito sua promessa em um terreiro de candomblé.



Curiosidades:

  • O diretor de fotografia desse filme, Henry Chick Fowle (1915-1995), mais conhecido como Mister Chick, era um inglês que se radicou no Brasil e acabou influenciando toda uma geração de profissionais, além de ter sido responsável pela fotografia de vários sucessos de nosso cinema, em especial dos filmes da produtora paulista Vera Cruz.
  • Chick Fowle e Anselmo Duarte já haviam trabalhado juntos no primeiro filme dirigido por Anselmo. Absolutamente Certo,  de 1957, mas antes disso participaram do filme de Adolfo Celi (1922-1986 - diretor e ator italiano que trabalhou no Brasil por algum tempo nas décadas de 50 e 60). Tico Tico no Fubá, que Chick fotografou e Anselmo Duarte protagonizou.
  • O filme O Pagador de Promessas ganhou uma infinidade de prêmios, mas nenhum que supere a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1962.
  • Segundo B.J.Duarte (fotográfo e crítico de cinema) - "Cinema de linhas simples, mas de realização tão complexa, exatamente por se relacionar a uma intriga de raízes psicológicas sociológicas, sentimentais e telúricas tão íntimas".
Algumas possibilidades de trabalho com o filme:
  • Áreas curriculares: Linguagens e Códigos e Ciências Humanas.
  • Sugestão de disciplinas: Arte, Língua Portuguesa e Sociologia.
  • Temas: Ética, Pluralidade Cultural (gênero e simbologia da linguagem cinematográfica, literatura popular, sincretismo religioso)

     É importante informar que o filme é uma adaptação da peça teatral de mesmo nome, do dramaturgo Dias Gomes, escrita em 1959.

Análise do filme:
      Enfocar as dicotomias que se pode identificar entre: valores éticos de personagens; entre o poder institucional e o do indivíduo do povo, e entre o mundo rural e o mundo urbano. 
     Identificar algumas dicotomias encontradas no filme que revelam a incomunicabilidade (conflito e não diálogo) entre as pessoas, tomando como referência a figura do Zé do Burro: sua crença ingênua e a visão dogmática do Padre Olavo; sua atitude desinteressada e o oportunismo do comerciante; sua determinação cega no cumprimento da promessa à santa e o ceticismo de sua mulher sobre a importância desse ato.
     Em outro plano, a análise pode deslocar-se para o entendimento da significação dessa dicotomia em relação ao poder exercido pelas instituições sobre o destino das pessoas. Podem ser enfocados, por exemplo, a intolerância e o corporativismo da igreja católica, presentes no autoritarismo do Padre Olavo e na indiferença do monsenhor; a parcialidade da autoridade policial na resolução da crise; o desvirtuamento da função da imprensa ao atender a objetivos meramente comerciais.
     Em uma terceira abordagem, a dicotomia pode ser encontrada na diversidade de códigos do campo e da cidade. De um lado, a solidariedade e pureza do mundo rural, identificada pela divisão de terras promovida pelo Zé do Burro e sua total incapacidade de entender as razões do impedimento do cumprimento de sua promessa, e, de outro, a cidade, onde imperam o individualismo e a imcompreensão sobre o que é diferente e que desvirtuam intenções e conduzem à transgressão de Rosa e à morte do pagador de promessas.


Cinema e política: O filme O Pagador de Promessas revela uma visão de homem do povo da zona rural que corresponde a uma determinada concepção político-ideológica presente na época de sua criação. 
Figuras populares: Representação de grupos populares como os capoeiristas, mães de santo, malando, criador de versos.
Simbologia: Um exemplo é a sequência da morte e a entrada da cruz com o corpo na igreja, filmada de ponta-cabeça. A morte de Zé do Burro afirma, de um lado, a impossibilidade da compreensão do que é diferente, mas, por outro lado, ao ser posto na cruz e carregado pelos capoeiristas, sua morte ganha outro sentido, pois eles, representantes do povo, entendem seu ato, e, mesmo que tardiamente, fazem com que Zé do Burro realize o pagamento de sua promessa.


Literatura popular: Utilizar a figura do criador de poesia para trabalhar literatura de cordel¹, de alguns versos de cordel selecionados².
Sincretismo religioso: O processo de transformação por que passaram as religiões de origem africana que se universalizaram, desvinculando-se de suas bases étnicas, geográficas e de classe social. A prática do candomblé como religião de resistência dos escravos e seus descendentes, que propiciava a manutenção e renovação de seus vínculos com as tradições culturais africanas diante da dominação branca e católica, mas que, por outro lado, atendia à exigência de integração desse povo a esse mundo, para garantir sua própria sobrevivência. Essa dualidade gerou a fusão entre as figuras religiosas da qual o filme fala.
*Caderno de Cinema do Professor 1
¹. Tipo de poesia na Europa, e sua disseminação no Brasil, trazida pelos portugueses.
². Capacidade criativa do cordel, que conserva e reinventa costumes e crenças, reafirmando, assim, a identidade coletiva, denúncia social.










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